segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Cojones

Em entrevista recente, o presidente da Alpargatas, Marcio Utsch criticou fortemente a política protecionista do governo. A declaração espantou e repercutiu, tendo em vista sua  dissonância com tudo o que sai do chamado ‘empresariado brasileiro’. Como normalmente acontece, ela atraiu comentários exaltados dos patrulheiros de plantão, em todo o espectro político nacional (link).

Mas acima do mérito de suas palavras, o executivo levantou a possibilidade de um debate que infelizmente ainda não decolou no país: qual o papel das lideranças empresariais no processo político e nas escolhas econômicas da nação ?

É muito raro vermos um empresário falar mal do governo. E não é por acaso. Vivemos num país onde o setor público absorve mais de um terço do que é produzido, e onde mais da metade do crédito disponível na economia é definido em última instância nos gabinetes de Brasilia, ao invés dos departamentos de análises de bancos privados. Um executivo que se opõe ao governo, nestas condições, pode fazer muito mal à saúde de sua empresa. Silenciam, portanto, por timidez e até mesmo medo. Mas um medo justificável por seu ofício. O mandato destes executivos determina que tenham um dever fiduciário com as suas organizações. E se opiniões pessoais expressas publicamente puderem trazer consequências negativas para as empresas que pagam seus salários, temos uma quebra deste dever fiduciário. Não podemos, por exemplo, condenar os ‘conselheiros representantes dos minoritários’ da Petrobrás por terem compactuado com a malfadada capitalização da empresa, uma vez que os mesmos possuiam deveres fiduciários em relação às suas próprias organizações - no caso, Gerdau e Santander (pode-se questionar se deveriam ter aceito a incumbência, mas esta é uma outra discussão).

Estamos então condenados a conviver com empresários coniventes (na melhor das hipóteses) ou bajuladores das autoridades e de suas políticas, por mais equivocadas que sejam ? Hoje sim, mas não deveria ser assim.

Em recente debate do 12º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (link), o presidente do Instituto Português da Empresa Familiar, Peter Villax, lançou um apelo às lideranças corporativas para que saiam de seus confortáveis casulos e venham participar de ‘coração aberto’ do debate sobre políticas públicas. Ao contrário das tradicionais manifestações subservientes do empresários, uma visão crítica e construtiva desta categoria da sociedade é fundamental para que as políticas públicas sejam moldadas no sentido adequado. Aqueles que criam empregos, riqueza e inovação são os maiores interessados em que o setor público saia do círculo vicioso de decisões míopes e curtoprazistas, que obedecem somente ao ciclo eleitoral. Empresários que executam planos de 10 ou 20 anos precisam influenciar gestores públicos, que não conseguem enxergar além dos quatro anos típicos de um mandato.

Mas como conciliar a necessidade de engajamento das lideranças empresariais com seus deveres fiduciários– principalmente em jurisdições como a nossa, onde os gestores públicos preferem publicidade a notícia (link), e onde o maniqueísmo distribui benesses aos amigos e condena os opositores ao jejum de verbas e contratos com o Leviatã ?

A resposta está – ou deveria estar - nas associações de classe. Sua razão de existir deveria ser a canalização de opiniões e do engajamento das lideranças empresariais em relação às políticas públicas. Infelizmente, no Brasil isso não acontece. O sindicalismo patronal é apenas mais um apêndice estatal que dá acesso a um ervanário público que vitamina ad eternum o custo-Brasil. Todas as federações, confederações, sindicatos e associações parecem existir com o único benefício de adular os governantes, ou assegurar uma maior canalização de verbas públicas para seus constituintes. Assim como foi feito com os sindicatos de empregados, engesssados desde a CLT mas verdadeiramente estatizados pelas políticas públicas da última década, as entidades empresariais deixaram de ser parte da solução e se tornaram parte do problema. As mazelas envolvendo a Fiemg e o ministro Fernando Pimentel são um pequeno exemplo disso.

É fundamental que se encontrem veículos para expressar opiniões corajosas como aquelas do presidente da Alpargatas. Isso se refere não apenas ao setor público, como também às práticas corporativas – como fez o ex-presidente da Usiminas, Marco Antonio Castello Branco.

Só sairemos da atual ditadura do populismo quando empresários corajosos como estes encontrarem um canal efetivo para externarem suas idéias e influenciarem seus pares – e indiretamente o governo. Para isso acontecer, a maioria silenciosa de empresários do bem precisa se engajar.

Empresários brasileiros, uni-vos! Vocês não tem nada a perder a não ser as correntes que emperram o progresso.

Um comentário:

  1. Caro John Galt, Agradeço a sua referência à minha intervenção no congresso do IBGC, e fico contente de ver que a minha mensagem foi tão bem entendida. Eu próprio já usei a expressão "Emprésarios de todo o mundo, uni-vos, a única coisa que têm a perder são os vossos subsídios !".

    Cumprimentos
    Peter Villax
    pvillax @ gmail.com

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